CONVERSAS PSICOLÓGICAS

Psicologia, indivíduo e sociedade

Raul Buchi logo Fundo transparente

Adoro começar minhas postagens lembrando que a vida não é fácil. E, saiba claramente, não é fácil para ninguém.

A vida não é fácil

Assim, foram 17 anos sentado em um consultório de psicologia, atendendo entre 20 e 35 horas semanais, o que implica em mais ou menos 20 a 35 pacientes. Trabalhei em clínicas com terapias de grupo, ministrei um número infinito de palestras, seminários e cursos.

Dei aula por 5 anos no curso de psicologia. Posso afirmar quase categoricamente que: a vida não é fácil para ninguém. Ricos e pobres, nobres e plebeus tem uma gama de escolhas para fazer ao longo da vida, do ciclo vivido, do ano, do mês, da semana, do dia e de suas horas e minutos.

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Nossas escolhas

Vivemos em função das decisões ou escolhas tomadas. E elas terão consequências. Assim, quanto mais conhecimento, quanto mais experiência e, tão importante quanto, quanto mais capacidade de análise das situação, melhor serão as escolhas feitas.

Minha mãe (que sempre lê meu blog tomando um xícara de chá e me ajudando a achar os erros de digitação e concordância), uma senhora muito espiritualizada, adora dizer, frente a essa minha afirmação: “tudo isso está certo, mas quando as fiadeiras do destino não querem, experiência e conhecimento ajudam a escolher, mas não a desenvolver o fruto da escolha. Elas fazem a seca e a chuva”.

Minha mãe acredita no destino como algo determinante, imperativo e inexorável.

Eu não.

O destino

Mas, nessa afirmativa tão espiritualizada, minha mãe dicide a situação em três etapas diferentes de forma bastante didática:

1ª Escolha ou tomada de decisão – auto explicativa, mas o momento em que se decide o caminho a ser seguido;

2ª O desenvolvimento desse processo – a caminhada pelo caminho escolhido;

3ª A conclusão do processo – literalemente, chegada no destino.

Com essa estrutura simples e óbvia, podemos começar a discussão.

A variáveis e o destino

Quando pensamos em um destino que interfere no processo, percebemos isso acontecendo nas etapas 2 e 3. Ou seja, nas etapas aonde necessarimanente, temos menos controle sobre todas as variáveis desconhecidas envolvidas no processo.

Quando efetuamos uma escolha, temos pouquíssimas variáveis desconhecidas. Potanto, a sensação de controle sobre o processo é enorme. Conseguimos, dependendo da obsessão pessoal, colocar todas essa variáveis em uma tabela e quantificar cada uma delas hierarquicamente.

Por exemplo, quando decidimos começar uma plantação quanquer: custo da semente, área plantada, irrigação, qualidade do solo, adubagem, mão de obra, etc.

A quantificação

Essa sensação de controle dada pelo quanhecimento da maioria das variáveis possíveis exclui o desdtino com um detentor de poder sobre o processo. No máximo incluimos no processo a tal da intuição, aquela voz interior que, academicamente, chamamos de conhecimento implícito. Enfim, um conhecimento que não é facilmente acessado de forma consciente.

Mas, mesmo com a intuição agindo como uma das ferramentas para a tomada de decisão, as variáveis desconhecidas são poucas (ou pelo menos, em menor quantidade do que nas demais etapas), então temos uma sensação maior de controle. Temos menos espaço para atribuir responsabilidades ao destino que deus quis ou os deuses quiseram.

As variáveis desconhecidas

Quando pensamos na 2ª etapa, pensamo em processo mais complexo do que uma simples tomada de decisão. Complexo em número de variáveis conhecidas e desconhecidas, mas também mais complexo em termos de tempo.

Em geral, levamos de horas há anos desenvolvendo o que foi planejado na 1ª etapa. As vezes, nós levamos uma vida inteira construindo, desenvolvendo algo até que estejamos prontos para dizer que o objetivo foi alcançado.

A primeira questão aqui é que o numero de variáveis desconhecidas é exatamente igual ao infinito e a nossa capacidade de planejamento não é. Veja o exemplo simples da plantação:

Se você por ventura mora na Suíça, Itália, França ou em algum país do hemisfério norte, nesse ano de 2020, quando você decidiu o que plantaria e se preparou para isso (fim do inverno), muito dificilmente, você poderia contar com uma pandemia global de um vírus assassino (início da primavera e plantio), que afastaria a mão de obra trabalhadora, desmontaria os processos logísticos de distribuição e afastaria os consumidores de suas compras.

Nem os governos mais organizado puderam prever com mais de 15 dias as consequências disso tudo. Mas, poderia ser um asteroide, poderia ser uma crise de hemorroidas, poderia ser alergia ao sol. Poderia ser muita chuva, muita seca, gafanhotos, falta de abelhas. Poderia, inclusive, ser uma quantidade infinita de variáveis desconhecidas e, portanto, inesperadas.

Essa inesperabilidade das variáveis desconhecidas é o que chamamos de destino. Contra ou a favor delas, podemos tomar contra-decisões que ajudem a maximizar os efeitos(se forem variáveis positivas ao processo) ou minimizar os efeitos (se forem variáveis negativas ao processo). Essas contingências exigem respostas contingências para que suas consequências sejam maximizadas ou minimizadas.

Então, frente às ações do “destino”, as variáveis desconhecidas, podemos ainda assim, tomas micro-decisões, fazer micro-escolhas transformadoras ao longo do processo. Isso é chamado de “solução de problemas” ou “criatividade”.

A criatividade, quando aplicada na 1ª etapa, gera inovação. Quando a criatividade é aplicada na 2ª etapa, ela gera soluções para os problemas trazidos pelas variáveis desconhecidas. Nesse aspecto, quanto mais flexibilidade no processo melhor.

A criatividade implica em liberdade de regimento e de regras pois, é preciso criar algo diferente do existente para que se possa lidas com as novas contingências, com as novas regras trazidas pelas variáveis desconhecidas.

E, aqui, temos uma importante lição: Quando tomamos uma decisão, criamos uma cadeia de decisões (comportamentos) a serem tomadas frente ao tempo e os eventos desencadeados por nossas ações e decisões. Quando essa cadeia de eventos e decisões é quebrada por uma (ou várias) variável desconhecida, essa variável desconhecida aplica novas regras ao processo.

Assim, em última instância, há um conflito entre as regras que nós aplicamos para que o processo se desenvolva e as regras aplicadas pelas variáveis desconhecidas trazidas pela realidade. A capacidade de mudar as regras planejadas e aplicadas será igual ao potencial da criatividade para a busca de solução frente às variáveis desconhecidas.

Vamos fazer uma pausa aqui.

É preciso fazer uma pequena nota: É possível que, quanto mais conhecimento, experiência e planejamento, menos variáveis desconhecidas sejam encontradas ao longo do percurso de desenvolvimento.

Ou seja, quanto mais planejamos, mais variáveis desconhecidas transformamos em variáveis conhecidas, assim, mesmo na 2ª etapa, podemos ter uma fator de controle bastante razoável e hierarquizado sobre o processo. Não podemos fazer isso ao infinito, mas podemos diminuir a margem de erro para número bastante favoráveis.

Mas, vamos continuar provocando a minha mãe e continuar negando o destino.

A sensação de descontrole sobre o processo de chega das variáveis desconhecidas e suas consequências nos dá a sensação de descontrole sobre os eventos futuros. Quanto mais a vida passa, mais aprendemos que as variáveis desconhecidas vão acontecer queiramos nós ou não, assim, quanto mais vivemos mais tendemos a acreditar em forças do destino que operam sobre a vida. E isso, podemos chamar de aceitação frente a vida.

Mas, sendo bastante modista, afinal, criatividade é o assunto da moda, principalmente no meio empresarial, quanto mais planejamento prévio e quanto mais criatividade, mais habilidade de lidar com as variáveis desconhecidas, ou com o destino.

Minha mãe diria que “as fiandeiras gostam de quem prova o seu valor”, assim na leitura fantástico-cósmica da minha mãe, a resposta para as variáveis desconhecidas é a mesma: perseverança e capacidade de se transformar são a chave para lidar com as contingências.

Raul de Freitas Buchi